quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Parlamento


Os parlamentares se reuniram, havia algum tempo em que não se convocava uma sessão extraordinária. Nem todos estavam a par da pauta, e alguns se demoravam nos jardins a conversar perplexos sobre o motivo da reunião. Olhos arregalados e reprimendas sussurradas.

Pouco a pouco se instalaram desconfortavelmente em seus assentos.

(...)

Após acalorado debate, honroso membro do do Partido de Todas as Causas interveio:
-Caros colegas, não julguemos precipitadamente nosso estimado líder. Lembrem-se de Zadig da Babilônia. Ao dizer que as paixões eram funestas, ouviu do famigerado eremita: "São como os ventos que enfunam as velas dos barcos, submerge-os às vezes, mas sem o seu auxílio não poderiam vogar. A bílis nos torna coléricos e doentes, mas sem a bílis não poderíamos viver. Tudo é perigoso nesse mundo, e tudo é necessário."

Completando o Colega, membro do Partido Libertário endossou:
-Exatamente, caro parlamentar! Recordemo-nos das palavras de Árjuna! Quando Krishna disse que a mente é a pior inimiga para quem não a controla, e a melhor amiga para quem a controla, ele respondeu: "É mais fácil controlar os ventos do que minha mente!". Portanto lembremo-nos: nosso líder é humano como nós e não escolheu o sentimento ou muito menos o contexto!

-Acaso realmente endossa tal empreitada? Perdestes o juízo? Desconhece as possíveis conseqüências destes atos?
-Não desconhecemos! Estamos a mostrar o outro lado! Para tudo dá-se uma solução!
-Nem tudo senhor! Deveriam mudar a legenda de vosso partido para Partido da Libertinagem, pois é o que pregueis! "Sem repressão não há civilização!"
-Hão de descambar para vosso moralismo!? Respeitai o intelecto de vossos colegas...!

Após, houve ápice e declínio dos ânimos. Fez-se um intervalo e uma trégua aparente entre os membros da casa.

Pede a palavra um do Partido dos Templários:
-Senhores! O caminho que nosso líder tende a percorrer é inaceitável. Não vêem pois que nega tudo o que sempre foste? É cegueira tentar evitar a cegueira de nosso mestre! Há limites! E este é um dos mais claros!

-Nosso estimado líder (argumenta outro), pode não ser totalmente responsável por seus sentimentos, mas é sim, totalmente responsável por seus atos!

-Acaso não estaremos negando algo precioso, pelo apego às regras? São as regras que devem servir aos humanos, não o contrário.
-Não devemos nos escravizar às leis, tampouco aos impulsos mundanos!
-Como saber se são apenas mundanos? Como diminuir a questão?
-É isso! Não sabemos ao certo!
-Concordamos porém que as conseqüências podem ser trágicas?
-Sim, quanto a isso todos estamos de acordo...

(...)

Um novo regime, se instalara, um governo provisório. O estimado e agora relutante líder fora enviado ao exílio. Temporário... mas exilado. Escutar o silêncio foi a prescrição.

Antes de partir, o rei despachou um mensageiro. Este, vencido pela curiosidade leu a missiva antes de entrega-la: "Das quase histórias que tive, se as tive, você foi a melhor! Saudades dos dias-anos em que éramos crianças e tudo era possível."






(continua...?)

Não.

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