quarta-feira, 31 de março de 2010

Pessach







"Stop all the clocks, cut off the telephone,
Prevent the dog from barking with a juicy bone,
Silence the pianos and with muffled drum
Bring out the coffin, let the mourners come.

Let aeroplanes circle moaning overhead
Scribbling on the sky the message He Is Dead,
Put crepe bows round the white necks of the public doves,
Let the traffic policemen wear black cotton gloves.

He was my North, my South, my East and West,
My working week and my Sunday rest,
My noon, my midnight, my talk, my song;
I thought that love would last for ever: I was wrong.

The stars are not wanted now: put out every one;
Pack up the moon and dismantle the sun;
Pour away the ocean and sweep up the wood.
For nothing now can ever come to any good."

W. H. Auden


sexta-feira, 26 de março de 2010

Amicitae



Estava eu em Galway descendo a rua de pedestres. Eram umas 4 da tarde de um quase inverno da costa irlandesa. A chuva armou-se repentinamente. Rajadas de ventos fortes... um certo magnetismo no ar que faria esvoaçar sacolas de plástico em Beleza Americana. As pessoas começam a andar apressadamente, caoticamente... ventos ainda mais fortes. Enfim... um ensaio de um filhote de tufão... antes de chover o Atlântico Norte assopra um pouco.

Sabe aquela histeria de antes de uma tempestade? Pois essa era a cena descendo a rua. Um mendigo estava a repetir movimentos oscilantes com o tronco, como um árabe durante o Ramadã. Neste exato momento ele ganhou alguns trocados... antes de uma catástrofe as pessoas têm impulsos de compaixão.

Observei então outro mendigo. Estava alheio ao caos que se desenhava à toda parte. Sentado ao chão, encostado na porta de uma loja fechada. Chamou-me a atenção seu pequeno cão: um fox paulistinha. Como o nome sugere, essa raça surgiu no Brasil, provavelmente em SP. Eu mesmo já tive dois desses seres: Shake e Rocky. Achei curioso encontrar um desses na cidade mais a oeste de toda a Europa, nos confins.

Enquanto todos pareciam se desesperar, ante o pânico de véspera de uma tempestade violenta os dois – mendigo e cão – estavam a brincarem e se olharem, amor fraterno, uma alegria incontida e sem motivo. Era isso, havia um homem e um cão, e um magnetismo, não fosse alegre, seria histérico , tamanha felicidade.

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Havia um gato. Se apaixonou pelo contexto, confundiu-o com o dono. Julgando ser do dono as qualidades da tigela e do tapete ronronou eternamente em suas canelas.

Um dia faltou leite na tigela. O gato mudou-se para o vizinho de tigelas fartas, e ronronou eternamente por lá.

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Que não seja imortal posto que é chama, e nem tenha a pretensão de ser infinito enquanto dure. Mas desejo a vocês que tenham amores mais caninos que felinos, e que sintam a beleza da lealdade (não confundir com resignação). Amicitae: sentimento fiel de ternura e afeição. Enfim, esta, a verdadeira riqueza da vida.